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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um Chá no Deserto (entre o El Jem e o Fim do Mundo)










O primeiro dia da nossa longa jornada, começou brindado por repreenções do nosso gigantesco atraso de 15 minutos. Nem tempo para apresentações houve, foi chegar enfiar as mochilas no tejadilho do Jeep e pôr-nos ao caminho. Só com os animos menos carregados começamos a descortinar que aquela mulher toda tapada dos pés à cabeça, de luvas brancas e um véu seria a nossa intérprete, e que além do Crew Habibi os 2 Jeeps estavam já com outros ocupantes, Espanhois ??!!!
O grupo ficou dividido pela metade e durante umas 2 horas ninguem abriu boca dentro daquela viatura, meti os auriculares do MP3 nos ouvidos e fiquei a apreciar a paisagem que entrava pela janela com um cortinado vermelho escuro. Afinal isto não é muito diferente do Alentejo, pensei para mim mesmo, planicie sem fim pontilhada por algumas oliveiras e umas casinhas toscas que aos poucos se começaram a adensar. Disseram-nos então que estavamos em El Jem, um povoado no interior da Tunisia que em tempos muito longicuos era a Roma Africana, e que para além das ruinas do Coliseu (praticamente intacto) pouco mais haveria para ver. O Jeep parou sob a sombra daquela imponente construção, enorme, distinta quase aterradora, diziam os aldeões que aquele Coliseu era o segundo maior do mundo e melhor preservado que o romano (faltam 4 meses para tirar a limpo as verdades). Era impressionante, toda aquela majestosidade num só edificio com quase 3 mil anos, impossivel de conceber, ainda se encontrava quase intacto, o chão da arena todo preservado, as bancadas cheias de turistas sentados possivelmente à espera que os duelos tivessem inicio, não com feras como na antiguidade mas possivelmente de disparos de maquinas fotograficas (e se o jogo foi esse, certamente ganhei).
Partimos mais animados e decidimos fazer as primeiras compras, água, e descobrir a arte do regateio e de comprar mesmo aquilo que não queremos. Drigia-mo-nos para sul, ao encontro do tão ansiado Sahara, mas por ora iríamos parar nalguns pontos estratégicos "paradas técnicas", o que não tardou a acontecer numa cidade mais a sul, o nome varreu-se-me da memória mas a imagem de uma cultura diferente ia-se começando a montar, as cores dos mercados de especiarias com aquelas piramides de pó de todas as cores por milhares de barraquinhas começava a confirmar que sim, estava nas arábias!
O sol ia subindo nos céus e a temperatura nos Jeeps iam no seu expoente máximo, 7 pessoas em cada um, 14 no total rumo ao deserto ainda desconhecido e aterrador para todos como no primeiro dia em que soube, que era o maior deserto do mundo e vi as fotos num Atlas lá de casa. Parámos novamente no meio da estrada, íamos visitar as cavernas do povo Troglodita que eram escavadas na rocha para os protejer tanto dos rigores daquele clima como dos ataques inimigos. Entrou-se por um série de corredores que desenbocam num pátio central ao ar livre, uma senhora estava sentada num banco de barro enquanto lhe descobriamos os cantos à casa e teimámos em tirar uma foto com ela (como da para ver ficou magnifica). Fomos embora deixando algun dinares à senhora e sem antes dar umas festas ao camelo que tinha á porta, era hora do ALMOÇO. Entrou-se novamente numas cavernas para chegar a uma sala de refeições, serviram uns pasteis até que chegou o famoso COUS-COUS. A fome era negra e marchou tudo numa alegria mesmo a pesar do picante intenso. Rematados com um chá de menta e pinhões uns fadinhos à mistura e a falar com os espanhois como se de amigos de há muitos anos se tratasse, chegoua hora de ir pá cela e continuar a tour. Afinal não era assim tao mal, ainda tinham alcatrão.
Horas interminaveis sentados, dormiu-se com direito a roncos, dissemos disparates tipicos de quem está impaciente e nunca o caminho tinha fim. As casas iam rareando ate que desapareceram, as estradas ladeadas por calhaus não regalavam a vista nem dissipavam o cansaço. A interprete de nome Sophie discutia horas a fio com o motorista sem que ninguem entendesse uma palavrinha de árabe, foi então que parámos num planalto com uma vista soberba para um pequeno "pueblo" lá em baixo, a última imagem da palavra civilização que ficou nas nossas mentes. Daí em diante começava a aventura, o alcatrão acabava dando direito a uma estradinha de terra batida empoierada, coroada com distintas crateras, alguém atreveu-se a fazer a pergunta evitada: Quanto falta?, e a resposta temida saiu num espanhol perfeito, muito, umas 8 horas!!!
Horas interminaveis com paisagem monotona de montes de pedra, a cassete de musica arabe ja tinha rodado cerca de 10 vezes, já sabiamos as letras de cor. Nova parada técnica, desta feita para ver as Ghorfas, uns celeiros quase pré-históricos no meio de nenhures que haviam servido como cenário para A Guerra das Estrelas. Ainda hoje me pergunto como foi possivel montar um estudio de cinema ali, e quão mal haviam passado todos os figurrinos do filme dentro daqueles fatos debaixo de um calor de certamente passaria dos 40 graus.
- A próxima paragem é onde passaremos a noite! Disse a Sophie com a sensatez de querer animar um grupo menos energico que uma excursão de reformados. Saltamos pó Jeep, ouvimos novamente as mesmas cassetes e mais horas, horas, horas de caminho, agora nem estradinha existia, era o NADA. Soubemos então que já estavamos no deserto, o de pedra efectivamente, pois o de areia onde tanto ansiava chegar ainda era um pouco longe. O Sol começou a pôr-se, numa imagem tão intensa como reconfortante, que fotografia alguma conseguira reproduzir e o caminho continuava, sem marcas, sem estradas ou sinalização, íamos aos caprichos de quem nos conduzia.
Escureceu, num bréu quase aterrador e ao fim de 2 horas o Jeep parou. A Sophie e 2 espanholas sairam e dizendo que iriam acampar ali e o nosso acampamento era cerca de uma hora de distancia, no dia seguinte iriamos nos encontrar para seguir esta louca tour.
Finalmente livres e completamente loucos para desatinar, musica aos berros, todos os farois do Jeep acesos, ninguem a conduzir deixando o veiculo decidir o caminho que tomar. Paramos o motorista saiu a correr e voltou com 1 pano preto e largou aquilo em cima de nós. Que cena é esta?! Olha é um ouriço gigante e esta M*** pica. largamos o bixo dentro do Jeep saltamos para cima dos bancos para nao picar as pernas, alguem gritava que o animal já estava no motor ou nos pedais, e nesta balburdia dentro do Jeep chegamos ao nosso acampamento. Saltamos para fora do carro e devolveu-se o animal à natureza. Mas e o outro Jeep?????? Perdemos os espanhois. toca a entrar de novo no carro para os salvar e ao fim de algum tempo foram encontrados a mudar um pneu que se havia furado.
Grupo completo, hora de acampar e comer, ali mesmo no meio do deserto do Sahara. Azar dos azares, correndo o risco de não experimentar a maravilhosa cozinha do Magreb fomos brindados com um maravilhoso prato de COUS-COUS (abençoadas as sandes roubadas no hotel logo de manha cedo). Houve djumbés e chá ao relento, do calor infernal do dia deu lugar a um frio quase glaciar, as tendas eram uns cobertores pousados por cima de umas canas disposta num circulo quase quadrado. A Lua estava cheia, reflectia no chão fazendo sombras estranhas, as fogueiras haviam sido apagadas e de repente tinham desaparecido 2 membros do grupo. Instalou-se o medo, percorremos a área envolvente duas e tres vezes, perguntamos a uns homens se haviam visto passar 2 raparigas. NADA, com o coração aos pulos fomos para a tenda esperar, deitados a tremer de frio sem conseguir dormir esperamos horas (2 no total) até que as ovelhas tresmalhadas apareceram, tinham ido só ver a Lua ao Deserto!

1 COMENTÁRIOS :

  1. Risota até mais não...
    Com uma companhia como a vossa não podia deixar de ser! pá proxima tb kero ir....please

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