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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A divina vertigem


Ao fim de 2 dias em Viena, qualquer comum mortal começa a achar-se um super-entendido em matéria das artes decorativas e a achar que Barrocos e Rococós e primos afim têm afinal a sua beleza e que não é tudo uma explosão de dourados e cornucópias. Goste-se ou não de artes decorativas é realmente delas que Viena emana grande parte do seu charme e além dos palácios que abundam por aquela cidade nada melhor para apreciar a beleza de séculos anteriores como nas suas igrejas. É provável que o melhor exemplo disso (pelo menos para mim) é a Karlskirche situada numa praça com o mesmo nome. Desta maneira estava escolhido o lugar para passar o final da tarde, decidimos ir de metro pois no mapa não nos conseguimos localizar, o metro da Karlsplatz é a estação mais central de toda a cidade, onde se consegue apanhar linhas para todos os lugares ou ir facilmente a pé ao centro da cidade. Diziam os guias que é um local um pouco mal frequentado mas nada que corresponda à verdade, pelos menos das vezes que lá passei de dia ou de noite nunca vi nada suspeito a não ser uma noite, já tarde, uma concentração de pessoal de heavy metal.

Saímos do metro e depara-mo-nos com a  Karlsplatz, um refúgio no centro da animada capital , delimitado por elegantes edifícios. Num dos lados da praça salta à vista um bonito prédio cor de sangue, é a  famosa Künstlerhaus, escola de arte à qual Hitler se candidatara para ser artista e foi reprovado por não ter qualificações. É estranho olhar para a escola e ficar a pensar no que teria sido do mundo se ele tivesse sido admitido (provavelmente muito melhor).
Bem perto dali aparece a imponente Igreja de São Carlos ou conhecida por lá como Karlskirche, também ela testemunho vivo da violente guerra causada por um aluno reprovado na escola da vizinhança, é no mínimo irónico. 
Mesmo em frente da Igreja está um lago com esculturas de Henri Moore (que tive de estudar nas odiosas aulas de inglês) que por estar vazio foi o local perfeito para tirar fotos a enorme igreja branca, verde e dourada que crescia diante os nossos olhos.

Karlskirche


É no esplendor de todos os seus artifícios que se impões esta enorme e magnifica igreja, para mim a mais bonita de todas. É uma montanha de pedra branca muito trabalhada, dizem que no estilo Barroco, com alguns toques orientais que Karlskirche apaixona os seus visitantes e faz com que fiquemos largos minutos pasmados a contemplar toda a sua elegância. Como acontece com a Coluna da Peste, esta Igreja fora construída como pagamento da promessa do Imperador Carlos VI aquando o fim de mais um surto de Peste em Viena. Dedicada ao São Carlos Borromeu, começou a ser construída em 1716 sob orientação de Aton Erhard Martineli e posteriormente pelo seu filho até à sua conclusão em 1737. Apesar de ser uma obra prima do Barroco com a sua cúpula de 236 metros de altura, incorpora alguns elementos como o pórtico em estilo grego e laterais que nos fazem pensar em pagodes orientais bem como as famosas colunas que se destacam de toda a fachada que representam a vida do Santo e agem no edifício como demonstração de poder de todo o Império.

Se o exterior da igreja já me havia impressionado, assim que transpormos a bilheteira temos a sensação que entramos num lugar não sagrado mas sim mágico! O núcleo da igreja é branco e muito iluminado encimado por uma enorme e muito trabalhada cúpula (e o seu andaime!!!) faz o contraste perfeito com as paredes com pedra rosa e os complicados trabalhos em ouro que vão surgindo nos nichos. Mas o que mais chama a atenção é sem dúvida o altar principal, de uma subtiliza e de uma complexidade artística como eu nunca antes vira, onde o branco e o ouro jogam com as suas diferenças para criar um quadro quase real que nos deixa embasbacados.

O altar mor é provavelmente a peça mais importante da igreja e retrata a ascensão do santo ao céu  em cima de uma nuvem que parece flutuar sob símbolo da santíssima Trindade envolto em raios de ouro que reflectem todo este esplendor através dum vitral por detrás deste cenário. Pôr por palavras aquilo que os olhos vêem e o coração sente é tarefa árdua, cai-se no risco de ser enfadonho, mas até hoje creio que ainda não vi uma obra tão especial quanto esta.
Todo este trabalho se vai reflectindo nos diversos cantos e recantos da igreja, um frenesim de fotografias e ao mesmo tempo tentar perceber o áudio-guia e contemplar toda aquela maravilha, quase deram cabo da minha orientação, e às tantas dei por mim a repetir pela quinta ou sexta vez a volta em torno da igreja. se alguém perguntasse diria que era promessa. 

No meio de tanta beleza, sobressaia o metálico e inestético andaime mesmo no meio da cúpula, obviamente que seriam obras de restauro, mas que a coisa ficava mal ali, lá isso ficava, e não deixava contemplar as pinturas que por cima dele repousam. Entretido a tirar fotografias reparei num senhor já de idade sentado num banco mesmo diante do andaime onde uma luz vermelha piscava: ELEVADOR!! 
Poderia ser feio aquela coisa ali plantada no meio da igreja, mas pelo menos poderia subir lá em cima e ver a cúpula bem de perto quase no cara-a-cara. Mas rapidamente o meu entusiasmo esmoreceu, dizia a minha companhia ao ouvido "eu não vou morro de vertigens, vai tu que eu não me meto nessa coisa". Efectivamente era uma subida bem alta, mas eu estava convicto que valeria bem a pena superar o medo e conseguir chegar lá em cima. Passados uns minutos a gastar o meu latim e a vender-lhe a banha da cobra "não sejas maricas aquilo não vai cair, vamos até la acima vais adorar; o velhote foi todo contente e tu aqui a dizer que tens vertigens, etc etc etc" e foi!! Não resisti à ironia da situação, acabara de convencer uma pessoa com vertigens a subir ate 236 metros de altura e quando entramos no elevador este era completamente de vidro, fazendo com que tal pessoa fosse o caminho todo de olhos fechados e a cantarolar para afastar o medo.



Chegados lá no cimo, somos assaltados pelo espanto e pela admiração. o trabalho de pintura é espectacular, que conta a historia do Santo com a Virgem Maria bem ao estilo que a igreja merecia. Nunca havia subia a qualquer cúpula e esta fora uma experiência muito gratificante. por um lado poder observar a igreja cá em baixo e aperceber-me de que realmente as cúpulas são uma obra da engenharia de tão enormes e complexas que são, impressionou-me de como quando estamos no chão os desenhos são pequenos e difíceis de se ver quando na verdade quando estamos ao mesmo nível deles são enormes e um homem ao lado de um desenho é muito mais pequeno que esse e por fim de como usaram a perspectiva e as escalas para que do solo as coisas pareçam realidade. Aconselho a todos os que alguma vez possam subir a uma cúpula e apreciarem as diferenças.
A companhia já se encontrava mais calma mas teimava em não se aproximar das bordas da plataforma de todo o diâmetro da cúpula, era definitivamente um dos momentos altos da visita. encontravam-se umas 2 pessoas na plataforma tendo-me uma dito que deveríamos continuar a subir (mas a pé) até sairmos para a rua mesmo por baixo da cruz e que ai teríamos uma das vistas mais deslumbrantes da plana cidade de Viena. A única maneira de subir era por uns andaimes estreitos que subiam até ao orifício da cúpula, e  o senhor  volta-me a dizer para aproveitar ir pois aquilo era muito estreito e que de momento não estava lá ninguém. Armo-me em super-heroi e começo a trepar os andaimes suspensos na plataforma agarrada ao rebordo da cúpula, bem lá nas alturas e começo a ver a minha companhia mais distante enquanto um brisa começa a sentir-se pelo óculo da cúpula. A cabeça estava já meio tonta mas pensei que era cansaço e nisto os andaimes começam a tremer, ainda teimo em subir mas os meus passos  fazem tremer a estrutura, começo a ficar com medo e as pernas a tremerem, estava suficientemente alto para conseguir chegar mesmo ao topo mas começo a sentir umas tonturas e um pânico que me fizeram passar vergonha e gritar cá para baixo "Vou descer que estou com medo" e chego à plataforma suado e pálido como os mortos e depois de contada a aventura ainda ouço "afinal também tens vertigens, maricas!".
Nesse momento não quisemos saber mais de cúpulas e assim que o elevador chegou a terra firme foi no banco da igreja que recuperamos fôlego e baixamos a adrenalina. Acho mesmo que rezei mesmo não o sabendo.























Ainda com alguma adrenalina a pulsar nas veias, deixa-mo-nos ficar por ali sentados a apreciar mais uns momentos de tamanha beleza artística e ganhar forças ainda para mais uns momentos de puro deleito que proporcionaram o inicio daquela noite. Já de saída da igreja reparo numas escadas perto de um Santo António de Lisboa (não deixei de pensar que por aquelas bandas as mulheres também custam em procurar marido) santo nacional que orgulhosamente tem um altar nesta magnifica igreja. Ainda houve tempo e energias para ver uma exposição de arte moderna nos andares superiores e já mesmo na saída um cartaz com uma frase em português, naquela terra daquela língua muito difícil de falar que é o alemão!

Aquele final de tarde ainda teria muitas surpresas  para nos revelar, contudo a visita a Karlskirche fora um dos momentos altos, e provavelmente o monumento mais apreciado entre os 2 de toda a viagem. Bem pela noitinha, já a estourar aquela réstia de energia ainda passámos pelos seus portões e admirar novamente tamanha beleza mas no segredo das luzes e das sombras.



Dicas:
- Site Oficial clique no LINK
Ingresso: 6 €
- Horário: Mon-Fri 7:30am-7pm; Sat 8:30am-7pm; Sun 9am-7pm
- Localização e metro: Karlsplatz, 4th District/Wieden; U1, U2, or U4 Karlsplatz

7 COMENTÁRIOS :

  1. queria tanto ir a viena... :D

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  2. Aconselho foi dos locais que mais adorei passear

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  3. Ao que parece, a viagem foi mesmo fixe!!! ;)

    Muito bom o post e as imagens!

    Abraço,
    Luan

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  4. Ei Luffi!!

    Que igreja linda!!! Em minha corrida estadia por Viena, infelizmente não pude vê-la. Matei a curiosidade por aqui! :)

    Abs,

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  5. Fê tem então um motivo muito válido para voltar a Viena. e já sabe se tiver vertigens não suba no andaime

    abs

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  6. É claro que quero ir a Viena!
    Ir á ópera, visitar os maravilhosos palácios, vaguear pelas ruas e claro provar os doces das recheadas pastelarias. ^_^
    Mas aquilo que eu não posso mesmo, mesmo deixar de visitar é o museu Egon Schiele! (É o meu artista fetiche)
    Acho uma óptima ideia partilhares dicas, um viajante experiente tem de partilhar o que sabe.
    Obrigada!

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  7. Carol já sabes não podes ir a Viena sem me levares tu não pescas nada de alemão ahahahaha

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