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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

LOST - Perdidos na República Checa


Sempre considerei que um dos motivos que torna cada viagem única e impessoal são aqueles pequenos/grandes momentos que acontecem sem aviso prévio e nos fazem tomar um rumo, uma decisão que não tínhamos previsto antes de partir. Assim se sucedeu no nosso último dia na Áustria, o dia em que supostamente nada de interessante iria acontecer, a não ser uma série de horas fechados num comboio até Praga, quando o inesperado e hilariante aconteceu. Mas comecemos do início ...

Última manhã em Viena e não tínhamos nada programado para as horas que antecediam a partida para Praga. Andámos a vaguear pela cidade sem nenhuma rota destinada, ainda visitamos uma igreja, uma série de lojas para as lembranças de última hora mas nada de muito interessante. O comboio iria partir pela hora do almoço e decidimos comprar alguma coisa para comer no caminho. Entramos numa padaria com umas sandes apetitosas, mas sem preço!!! Ok a linguagem gestual é universal e apontei para aquilo que queria e a senhora falou qualquer coisa no seu alemão incompreensível, provavelmente seria o preço, mas como não sabia os números em alemão estava ali a surgir um impasse difícil de resolver, foi então que um homem que estava na fila se chega ao balcão, abre a carteira e paga a minha compra e diz wien gift
Definitivamente neste dia algo estranho estava a acontecer, numa loja de chocolates também nos ofereceram uns chocolates. Sem percebermos muito bem o porque de tanta simpatia Vienense lá fomos a caminho da estação e embarcamos naquele comboio que nunca chegou ao seu destino, na aventura provavelmente mais estranha que me aconteceu até hoje!

Embarcamos numa cabine de 6 lugares onde já lá estava uma senhora sentada, rapidamente percebemos que aquele espaço seria só para nós os 3 quando na porta constavam os nossos nomes mais o da dita senhora. Excelente, estava quentinho e tínhamos espaço suficiente para nos pormos à vontade, abrimos malas e retiramos roupa, saíram os sapatos e os mil casacos que tínhamos vestidos, fizemos um piquenique ali mesmo, um lia um livro o outro ouvia musica, ainda tentamos falar com a senhora mas o inglês dela não dava para muito e lá se descosia com alguns sorrisos, naquelas longas horas. Entretanto o comboio chega a uma estação e fica parado, algumas pessoas saíram, e o comboio manteve-se parado uma hora, algo estranho estava a acontecer, a nossa "amiga" também pouco mais sabia que nós e só nos restava esperar. Ao fim de cerca de 2 horas de estar parado entra na cabine o revisor e fala qualquer coisa ainda mais incompreensível que o alemão da padaria e a senhora pega na sua malinha e vai-se embora!!!! Mantivemo-nos ali sentados com o nosso estendal ainda montado quando se dá o seguinte discurso:

- Olha lá! Está tudo a ir-se embora do comboio, a mulher também saiu, isto está qualquer coisa errada?!!!
- 'Tá nada, as pessoas estão a sair porque deve ser a estação delas e isto está parado aqui porque as vezes eles tiram ou metem outras carruagens, não stress ... 
Nisto entra de novo o revisor e fala qualquer coisa em checo, com um tom mais severo e sai.
- Isto está a acontecer alguma coisa, está tudo ali na estação acho melhor arrumarmos isto tudo porque não sei o que se passa!!!!
Chega novamente a senhora ao compartimento e diz:
- Train .... a problem!

E estas foram as últimas palavras que se conseguiu compreender nas várias horas que se seguiram. Saímos do comboio e juntamo-nos a multidão que se encontrava na plataforma, caía um nevão como nunca vira na vida, um homem gritava em checo e nós sem perceber absolutamente nada, informações ninguém nos fornecia, não sabíamos onde estávamos nem porque nos tinham mandado sair do comboio. Irracionalmente aproximamo-nos de um casal de japoneses tão desorientados quanto nós. A multidão começou a sair da estação a caminho do centro de uma aldeia pequena, com neve até ao joelhos. Começaram a chegar autocarros e as pessoas entravam, mas estes eram poucos para tanta gente. Chegou um e fomos a correr na sua direcção, para onde iria não fazia a mais pequena ideia, mas entrei com a mala, disse ao motorista Praha (Praga) ele nada disse e o bus começou a andar, cerca de duas horas por entre vales cheios de neve, rios congelados, aldeias se se ver ninguém. A neve teimava em continuar a cair, assim como continuávamos sem saber absolutamente nada do que se passava. 

Não sei ao certo quanto tempo passamos naquele Bus, até que para num largo de uma aldeia e sai toda a gente, em frente um edifício que se parecia com uma estação para onde nos dirigimos e uma mulher apontava para o exterior na suas traseiras. seria outro comboio? Não, nada se encontrava além de neve e a linha do comboio. Nisto as pessoas descem para a linha e começam a caminhar sobre ela, fizemos o mesmo com extrema dificuldade com a mala  aos trambolhões na linha férrea e a neve a chegar até meio da perna. Encontrámos então um hangar com um comboio para onde com extrema dificuldade as pessoas tentavam subir mas as pernas não alcançavam o primeiro degrau pois não havia plataforma. O comboio começou a andar, perguntei a uns velhotes se o seu destino era Praga e disseram que sim. Finalmente!!!

Durante a viagem conhecemos ainda um espanhol Ratafari com algum mau aspecto, que andava a vaguear pela Europa de Leste à boleia e quase sem dinheiro, ia a caminho de Praga ter com uma amiga que lhe daria abrigo até arranjar voo e dinheiro para regressar a Espanha. Ao fim de várias horas lá chegamos quase de madrugada a Praga, trocamos de numero de telefone com o nosso novo amigo e após algum dificuldade em descobri como haveríamos de chegar ao hostel, lá demos com ele com um quarto enorme só para nos os 2 bem perto de um restaurante baratinho e com net gratis!!!! 

E desta forma o dia mais chato da nossa viagem se tornou numa aventura que jamais esquecerei, a nossa atribulada chegada à cidade de Praga.

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