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sábado, 15 de junho de 2013

Prisão do Tarrafal

Já completamente absorvido pela beleza e intensidade daquela magnifica ilha partimos da cidade de Assomada rumo ao que eu esperava e foi o ponto alto da viagem. Continuando a serpentear pelas estradas a ilha demos entrada na Serra da Malagueta o ponto mais alto da ilha cujo o dia nos brindou com uma neblina intensa e nuvens a rodear o carro. Jamais imaginaria ter frio em pleno Setembro numa ilha tropical e desejar a todo o custo um casaco bem mais quente que a roupa de praia que levava naquele dia. 

Frio à parte a vista bem do alto da montanha era a mais deliciosa de toda a ilha e aliada aos sorrisos das pessoas que poucos carros devem ver ao dia foi um momento completamente pacifico. Ficou o desejo de não dispor mais tempo para apreciar todo aquele esplendor da natureza e perder-me nas horas e nos pensamentos.  O tempo urgia e a vontade de conhecer mais daquela ilha ia aumentando quando a estrada se tornou calçada dando como sinal que estava a chegar ao destino: Tarrafal!
Apesar de se adivinhar um mergulho no paraíso a primeira paragem foi num dos locais mais decrépitos da história recente de Portugal! Paredes meias com a magnifica baía encontra-se escondida a Prisão do Tarrafal um dos expoentes da ditadura Salazarista que Portugal viveu nas últimas décadas.
Localizada na localidade de Chão Bom esta colónia prisional criada pelo Estado Novo em Abril de 1936 com o objectivo de afastar prisioneiros políticos problemáticos da metrópole (Lisboa) e que aliada às más condições passar a mensagem de que as medidas contra dos desertores da ideologia do Estado Novo seriam levadas ao extremo!
Para quem chega é um contraste enorme a existência de um lugar de crueldade inimaginável situado num local de uma beleza ímpar. Diz-se que foi por esse motivo que ali foi construída tal prisão, para que a paisagem servi-se de escape aos guardas prisionais no meio da crueldade que ali se vivia.
De acesso difícil e praticamente deserta a sua entrada, fomos recebidos por um grupo de crianças curiosas que brincavam por aqueles lados abrigadas do calor debaixo de uma gigantesca acácia. Compramos as entradas a uma mulher que envergava trajes bem coloridos e após o fosso que separa o campo do portão fomos recebidos por um recinto quase deserto dominado pelo silencio. Vagueavam por ali alguns alunos locais de uma escola e o nosso muito pequeno grupo.
O vasto recinto verdejante das recentes chuvas é salpicado por meia dúzia de pavilhões que correspondiam às valências e dependências do complexos, entre elas a cozinha, os banheiros, as celas e como não podia faltar a solitária!
No centro do recinto destaca-se um pavilhão de cor rosada que se denominava como Posto de Socorro, contudo ao que parece tal local não era propriamente dedicado aos cuidados de saúde como afirmava o médico Esmeraldo Pais Prata que aqui trabalhou em 1936: "Não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito"
Continuando a visita demos de caras com a "Holandinha" ou "Frigideira" o terror das solitárias e do ressabiamento de um país caído nas malhas no Fascismo. A solitária da prisão não era mais do que um cubo de betão com pouco mais de 4 metros quadrados com uma janela minúscula, virada para o sol onde eram encarcerados vários presos expostos ao calor sufocante daquele sol, ficando isolados durante semanas e até meses. Desafiei a claustrofobia e entrei durante uns momentos e com cabeça baixa e porta fechada o calor tornou-se insuportável.
Holandinha
Em 1954 devido à grande pressão internacional foi encerrado o complexo que reabriu em 1960 aquando se deu o inicio das guerras pela independência das antigas colónias portuguesas em África. Acabou por encerrar por completo em 1974 quando se deu o fim da ditadura Salazarista e o fim do longo império português.
Já fora dos portões existe um muito pequeno Museu da Rebelião que conta em poucas palavras e imagens os horrores que aconteceram dentro daqueles muros.
Com o calor do meio dia a apertar ficou para traz este memorial da ditadura fascistas de um império que não se soube preservar e rumámos ao paraíso mesmo ali ao lado, acompanhados pelas cabras que pastavam serenamente nos caminhos.

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